Múrcia, do barroco ao andalusi.

Fachada da Catedral de Sta. Maria, Múrcia, Espanha.
A cidade de Múrcia, nas margens do rio Segura, é a capital da região espanhola homónima, tendo a sua área metropolitana cerca de 640.000 habitantes. É uma cidade fácil de visitar devido à sua planura, onde se encontram alguns dos monumentos barrocos, numa zona que é conhecida devido à enorme produção de vegetais que têm lugar ao redor da mesma, e que faz com que seja conhecida como a horta da Europa, exportando frutas e hortaliças para vários países europeus, num valor total de 2.376 milhões de euros (2015).

O local que escolhi, e que recomendo, para ficar alojado é no zona do jardim de Floridablanca, onde existem hotéis de várias categorias e preços e que permite chegar rapidamente ao centro histórico. O problema desta cidade é o estacionamento...



Saindo desta localização, e cruzando a ponte Velha, onde se encontra o oratório da Virgem dos Peligros, que substituí a primitiva ermida destruída para a construção da ponte no sec. XVIII, chega-se à praça da Glorieta de Espanha. Cruzando o rio não deixes de admirar a enorme sardinha que saí das suas águas, monumento recente em honra das festividades do enterro da sardinha, último ato do carnaval murciano. Nesta praça destaca o edifício neoclássico dos Paços do Concelho, datado do sec. XIX e construído sobre os anteriores medievais.

Percorrendo a rua do Arenal chega-se ao coração da cidade, a praça do cardeal Belluga, onde se encontra a catedral, palácio episcopal, seminário conciliar e o novíssimo edifício, nas traseiras dos Paços do Concelho e ligada a este por uma ponte envidraçada, da autoria do arquiteto Rafael Moneo, e que marca um contraponto contemporâneo à fachada barroca da catedral que enfrenta.

O Palácio Episcopal é um grande edifício maneirista, que se iniciou após as obras da catedral, com influência italianas nas soluções arquitetónicas das varandas do piso nobre e nas pinturas ao fresco que decoram a fachada.

Palácio Episcopal, Múrcia, Espanha.
Logo ao lado encontramos o edifício do colégio e seminário de S. Fulgêncio, hoje escola superior de dança e artes dramáticas, trata-se de outro grande edifício, de fisionomia barroca, e que foi um dos grandes centro culturais da região. No portal de entrada a curiosidade de se encontrar no intradorso do arco a inscrição com o nome da instituição fundacional, e sobre este o escudo da cabido da catedral, e acima deste uma varanda coroada, ao nível do 3º andar pela estátua de S. Fulgêncio.

Seguindo pela rua dos Apóstolos encontra-se a igreja de S. João de Deus, atual Museu de Belas Artes, datada do sec. XVII, curiosa pela forma ovalada do templo e por todo o programa plástico da mesma em que se unem a arquitetura, escultura e pintura (Entrada gratuita).

Voltemos à praça Cardeal Belluga e olhemos agora para a catedral de Santa Maria. Esta é a melhor obra do barroco religioso espanhol, ainda que a sua construção se iniciara no sec. XIV, o que faz com que estejam presentes os estilos gótico, renascentista e barroco. A fachada, qual retábulo dedicado a Santa Maria, é uma peça do barroco rococó, da traça de Jaume Bort. Marcam o ritmo e dividem as naves colunas de capitéis coríntios e coroada por frontão curvo com a escultura da Assunção da Virgem. Destaca também o alto campanário de sucessivos estilos arquitetónicos.

Interior da catedral de Múrcia, Espanha.
O interior do templo corresponde a uma planta de cruz latina, com deambulatório e 23 capelas. Merecem especial atenção a 4ª capela do lado da epistola, denominada Junterones, de estilo renascentista, obra que serve de capela funerária de D. Gil Junterón, que pertencia à curia papal de Julio II; o coro, no centro da igreja, doado por Isabel II de Espanha; o altar-mor, com o título de capela real, pois ali se encontra sepultado o rei Afonso X de Castela, onde destaca o retabúlo novecentista; no deambulatório encontra-se a joia desta catedral, a capela dos Marqueses de Velez, onde jaz Chacón Fajardo, mordomo-mor da Rainha Isabel de Castela, de fino traço gótico; a sacristia, na base da torre, e de fino traço renascentista, coroada por uma cúpula de grinaldas (a entrada na sacristia terá que ser feita de forma dessimulada, pois não está aberta a visitas); e finalmente no transcoro e contraportada da catedral encontra-se um belo alto-relevo da Apresentação no Templo, formando este espaço uma verdadeira aula dos vários estilos de construção da catedral. Saindo pelo lado do Evangelho, encontramos a porta das Correntes, maneirista, encimada pelas estátuas dos 3 irmão santos murcianos S. Leandro, S. Flugêncio e S. Isidoro.

Como última curiosidade o fato desta catedral acolher a diocese de Cartagena, cidade vizinha, sendo este o seu bispo titular, transferido para aqui por ordem real, sem autorização papal, no sec. XIII.

Tomando a rua Traperia, frente à porta das Correntes, é uma das mais comerciais da cidade, vamos encontrar o Casino (espécie de sociedade recreativa da alta burguesia local). É um edifício do sec. XIX, com várias salas neoárabes, neoromanas, etc., e que destaca pela riqueza da sua decoração.

Um pouco mais acima a rua Traperia cruza-se com a rua Plateria, outra das mais comerciais do centro, e seguindo até ao final desta chega-se à praça de S. Domingos, com a igreja homónima, e um dos locais para tomar umas tapas nas esplanadas que ali existem. 

Seguindo a mesma direção que traíiamos da rua Traperia encontra-se o Mosteiro Real de Santa Clara, atual museu que permite ir desde o palácio almóada (sec. XIII) que ali existiu e a sua transformação em mosteiro de clarissas (sec. XIV). Logo ali ao lado o belo edifício neoclássico do Teatro Romea.


Complexo do Palatino, Murcia, Espanha. | Foto: entretejiendoinstantes
Atravessando a Gran Via Salzillo, e junto a uns famosos armazéns comerciais, e quase completamente escondidos por painéis encontra-se o espetacular complexo arqueológico do Palatino, descoberto quando se preparava a construção de um estacionamento subterrâneo, são 10.000 m2 de um bairro muçulmano do sec. XI e XII constituído por palácios de recreio e hortas. Foi um movimento de cidadão que alertou para a importância do achado e levou à paralisação das obras. Para ver algo da descoberta há que contornar os painéis até à zona aberta onde se tem uma visão do conjunto até que se proceda à sua musealização, e que pode ser um dos grandes centros de testemunho do mundo andalusi (muçulmanos peninsulares).

De regresso à zona ribeirinha, podemos encontrar restos da muralha almóada (sec. XII) junto ao convento das Verónicas, passando junto ao mercado chega-se ao Palácio Almudí, construção renascentista que serviu de armazém de cereais, quartel, tribunal e na altura da minha visita (2016) se encontrava em obras de restauro.

Para terminar este roteiro ou simplesmente descansar as pernas não deixes de dar uma volta pelo passeio do Malecón, um espaço verde que acompanha o rio Segura.

Se quiseres um sitio para comer bem e barato, além dos muitos locais do centro, do outro lado do rio, no bairro del Carmen, há "mesones" e bares de tapas, e é uma zona popular e mais económica. 


Paços do Concelho, Múrcia, Espanha.

Edifício Moneo, Múrcia, Espanha.

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